Section 31. Uma das mais implacáveis organizações dentro da Frota Estelar, em Star Trek. Algo que Gene Roddenberry, criador de Jornada nas Estrelas, odiaria com toda a fibra de seu ser, e que só surgiu depois que ele estava morto e enterrado.
- Confirmada série de Star Trek da Seção 31 com Michelle Yeoh
- Star Trek: Strange New Worlds – Nova série com o Capitão Pike
O que é a Section 31
Star Trek sempre apresentou uma visão otimista do futuro, um mundo sem pobreza, fome, guerras ou ganância, onde todos trabalham para o crescimento pessoal e da Humanidade, Gene Roddenberry deixou claro que não queria conflitos interpessoais em seu futuro utópico, cada cidadão da Federação, ou pelo menos do elenco principal, era o melhor que a Humanidade tinha a oferecer.
É uma visão bonita, mas irreal, e mesmo na Nova Geração (1987-1994) já começaram a aparelhar rachaduras nessa armadura de moralidade, como o surgimento dos Maquis, um grupo de colonos transformados em guerrilheiros, depois que a Federação fez um acordo de paz com os Cardassianos e alguns planetas com colônias humanas ficaram em uma zona desmilitarizada, com as tropas de Cardássia expulsando os colonos.
Em Deep Space Nine (1993-1999) a Federação estava bem menos boazinha, enfrentando a ameaça Cardassiana, e depois a Guerra com o Dominion, um império do Quadrante Delta muito superior militarmente à Federação e seus aliados.
Em uma situação complicada, o Comandante Sisko muitas vezes agiu de forma não-ética, chegando a forjar provas de que o Dominion iria trair os romulanos, para evitar que eles fizessem uma aliança. Sisko chega a acobertar um assassinato, quando o embaixador romulano descobre a farsa e Garak o mata para que o plano não seja descoberto.
No meio disso, surge a Section 31, uma organização criada com base em um artigo no estatuto da Federação, que diz que ela deve ser protegida a qualquer custo. Formada por oficiais fanaticamente leais, a Section 31 age por fora da Lei, sem qualquer supervisão ou controle. Eles manipulam políticas, interferem em outros planetas, sabotam projetos, espionam todo mundo.
A Section 31 é 100% amoral, durante a Guerra com o Dominion eles chegaram a criar um vírus para exterminar a raça inteira dos Fundadores. Sim, a Section 31 não tem problemas com genocídio.
O conceito da Section 31 é tão forte que influenciou profundamente Deep Space Nine como um todo, mesmo só tendo aparecido em 3 episódios: “Inquisition”,”Inter Arma Enim Silent Leges” e “Extreme Measures”.
Quem é Philippa Georgiou
A Imperadora Georgiou (Michelle Yeoh) é uma personagem magnífica, talvez a melhor coisa que Discovery tenha rendido, fora Strange New Worlds. Implacável e incontestável líder de trilhões, ela é a líder do Império Terrestre no Universo do Espelho, um universo alternativo onde todo mundo é mau feito o Pica-Pau.
* eu sei
Georgiou é uma maníaca genocida malvada até a medula, capaz de exterminar um planeta inteiro porque acordou de mau-humor. Ela também é uma exímia guerreira, e como Michelle Yeoh tem histórico de fazer as próprias cenas de ação de vários filmes nas costas e já contracenou com Jackie Chan, ela manda bem na hora da porrada, também.
A Imperadora Georgiou encerrou seu arco em Discovery (2017-2020) sendo manda para o passado pelo Guardião da Eternidade, deixando espaço para que a personagem fosse usada em futuros projetos.
Section 31 – A Série
Em 2019 foi anunciado que Georgiou voltaria em uma série, Section 31, explorando as ações da famigerada divisão da Frota Estelar, mas por algum motivo as pessoas desanimaram, pararam de ir para reuniões, viraram bicho do mato e a série foi esquecida por vários anos, até Michelle Yeoh ganhar um Oscar, ficar bem mais cara e a série ser inviável. Ela acabou sendo adaptada para um filme, o que também funciona.
Section 31 – O Filme
Uma grande atriz, uma grande personagem que todo mundo adora, mas finge odiar, um conceito que envolve espionagem, intriga, traições, plot twists, política, tem tudo pra dar certo, certo?
Bote a Imperadora sozinha sentada em uma cadeira narrando eventos da História da Federação pelo ponto de vista dela e já temos um filme excelente.
Talvez a Section 31 tenha recrutado a Imperadora para viajar no tempo e dar um “empurrão” em eventos históricos, poderia ser um jogo de gato e rato excelente com o Departamento de Investigações Temporais, que tentaria impedir Georgiou de alterar o passado.
Section 31 – O que recebemos
O trailer não entregou muito do roteiro do filme, que visualmente parecia bem atraente, com personagens interessantes e bastante ação. Quando chegou, bem…
A Imperadora foi parar na Era Perdida, em 2364, 35 anos depois de Star Trek VI, e 40 anos antes da Nova Geração, uma era nunca explorada em séries ou filmes. Ela é dona de um bar em uma estação espacial, quando é interpelada por um grupo bem eclético de membros de uma unidade tática da Section 31.
Ela é recrutada para ajudar a capturar um alienígena com uma arma de destruição de massa. O plano dá errado com a entrada de um supersoldado que mata uma das integrantes do grupo. Aos poucos eles vão aceitando Georgiou, que passa a ser menos cínica em relação a seus colegas, apesar de ter sido meio forçada a voltar a trabalhar com a Section 31.
Logo descobrem que o supersoldado é San, um antigo peguete da Imperadora, a quem ela traiu e deixou como morto. A arma foi criada por ela no Universo do Espelho, e pode exterminar um quadrante inteiro da galáxia.
Depois de – não, não dá, desculpem.
Não deu certo
Todo bom trekker já deve ter percebido que a história não tem muito de Star Trek. Parece muito uma aventura genérica e esquecível, mas é bem pior que isso. Section 31 parece ter sido escrita por gente que nunca assistiu Star Trek, não gosta de Star Trek e não faz questão de aprender nada. Eles criaram uma tabelinha onde marcaram easter eggs e referências mais explícitas para dizer que “sim, é Star Trek sim”, incluindo tocar o tema da série clássica, de Alexander Courage, em um momento totalmente sem-sentido.
Nenhum dos personagens tem qualquer relação com Star Trek, mesmo a Tenente Rachel Garrett, comandante da USS Enterprise NCC-1701-C no magnífico episódio da Nova Geração Yesterday Enterprise.
A personagem que morre nos primeiros 15 minutos, Melle (Humberly González) é uma Deltana, como a Tenente Ilia do Star Trek I, e nunca disse a que veio. É uma morte gratuita e sem-graça, ninguém se apegou a ela, não deu tempo.
Quando Fuzz (Sven Ruygrok) se revela o traidor, ninguém se choca. Acabamos de conhecer o personagem, membro de uma raça de microcriaturas que usa robôs humanoides para interagir entre os humanos. Sim, todo mundo reconheceu imediatamente a idéia kibada de Homens de Preto.
Espremeram a Série
Section 31 parece fruto de executivos que passaram pela sala e viram os filhos assistindo Guardiões da Galáxia, e pediram pros roteiristas fazerem igual. É o velho grupo de desajustados, que aos poucos se torna uma família, mas sem o talento de James Gunn, e sem tempo para se tornar uma família.
O filme é dividido em capítulos que são suspeitosamente parecidos com episódios, mas é impossível comprimir uma série de 10 episódios (pelo menos) em 95 minutos. Tudo é jogado na tela, ninguém é introduzido (epa!) de forma orgânica. Em vários momentos a história pára para que personagens sejam apresentados com alguém narrando e explicando tudo que aprenderíamos com o passar da série.
O que tem de Star Trek?
Sinceramente? Nada. Se tirassem os poucos easter eggs e mudassem o nome dos personagens, seria uma série do Canal SciFi, cancelada com cinco episódios. Não há nada de Star Trek, nada de Section 31, não há intriga, mistério, não há conflito moral entre a Federação e a Section 31. Não há nem risco, pois a série se passa no passado, então obviamente a tal Arma do Juízo Final não seria acionada.
E outros problemas?
A identidade visual não remete a Star Trek. Os aliens são genéricos e não remetem a Star Trek. As naves não lembram Star Trek. Do ponto de vista técnico, percebe-se quando o dinheiro acabou. A montagem está muito, muito ruim. Há cenas em que os personagens dialogando em plano fechado são diferentes do corte mostrando um plano mais aberto. Isso acontece diversas vezes.
Conclusão:
Section 31 não pode ser chamado de Star Trek sem alma criada por um grupo de executivos, pois não há nada de Star Trek ali. Lembra uma velha anedota, provavelmente real, de um executivo de Hollywood que, após analisar um roteiro, falou “A idéia está provada, mas tirem o macaco”. O filme era King Kong.
Aqui alguém falou “A idéia está aprovada, mas tirem Star Trek”. Tiraram, infelizmente a idéia era uma bosta. A melhor definição dessa bomba veio da própria Imperadora:
Cotação:
0/5 do ursinho de pelúcia alienígena que virou uma bomba e – entendeu como esse troço é ruim?
Star Trek: Section 31 – nas palavras da imperadora… Meh