O que aconteceria se a Terra parasse de girar de repente?


Na prática, fenômeno não se encaixa em cenários plausíveis. Entenda, porém, como a Ciência pode explicar o que aconteceria com o nosso planeta.
Pexels
A pergunta é completamente hipotética, mas pode já ter passado pela sua cabeça: o que aconteceria conosco, com os animais ao nosso redor, com o meio ambiente, com grandes edificações pelo mundo e muito mais, se a Terra, do mais completo nada, parasse de girar?
A resposta, por outro lado, é simples: uma grande catástrofe.
Em resumo, tudo o que está em movimento junto com o nosso planeta, como a água dos oceanos, a atmosfera e até os seres vivos, continuaria se movendo a milhares de quilômetros por hora, devido à uma propriedade física chamada de inércia (entenda mais abaixo).
E isso mudaria o clima de forma extrema, com uma parte da Terra ficando exposta ao Sol por meses, enquanto a outra ficaria na escuridão, o que afetaria as temperaturas e o clima global.
Além disso, a como a Terra gira a uma velocidade de cerca de 1.674 km/h no Equador, se ela parasse sua rotação (algo que, na prática, é impossível e fora de qualquer cenário realista), tudo o que não estivesse preso ao solo seria lançado a essa velocidade.
E isso causaria uma enorme destruição, com prédios colapsando, grandes ondas no oceano e muitos outros desastres do tipo.
“As mudanças seriam enormes e inóspitas para a vida, árvores e plantas e grande parte do solo seriam varridos pelos ventos violentos”, explica Thaísa Storchi Bergmann, pesquisadora do departamento de Astronomia do Instituto de Física da UFRGS e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Mas porque de fato tudo isso aconteceria e como a ciência ajuda a entender e explicar os mecanismos por trás dessa hipótese tão catastrófica? Entenda mais abaixo.
Um corpo em repouso permanecerá em repouso
As aulas de física ajudam a entender. A inércia é o motivo pelo qual, se algo estiver se movendo, tende a continuar se movendo até que alguma força faça com que esse objeto pare ou mude de direção.
E isso se aplica à Terra. Ou seja, como o nosso planeta gira em torno de seu eixo, tudo que não estiver preso à Terra seria jogado para fora com a mesma velocidade da rotação (os exatos 1.674 km/h no Equador).
🌍🌗 ENTENDA: A velocidade de rotação da Terra varia. No equador, ela é mais rápida, mas vai diminuindo conforme nos aproximamos dos polos. Basicamente, isso acontece porque a circunferência da Terra é menor nas regiões mais ao norte e ao sul.
Por isso, se a rotação da Terra parasse de repente, teriamos consequências catastróficas tanto imediatas quanto ao longo do tempo. Um dos impactos mais dramáticos seria a liberação da força centrífuga que mantém a massa da Terra levemente achatada nos polos e mais “inchada” no Equador.
Consequentemente, isso causaria um ajuste bem abrupto na crosta terrestre, provocando enormes rachaduras e deslocamentos de terra.
“Esses eventos desencadeariam terremotos de magnitude sem precedentes e erupções vulcânicas massivas enquanto a Terra tentaria se estabilizar em um formato mais esférico”, exemplifica o sismólogo americano John Vidale, professor de Ciências da Terra no Dornsife College of Letters, Arts and Sciences da Universidade do Sul da Califórnia.
tsunami
Pexels
Além disso, Vidale ressalta que os oceanos, que atualmente são moldados pela rotação do planeta, se moveriam violentamente em direção aos polos.
Isso resultaria em ondas gigantes, como tsunamis inimagináveis, que devastariam áreas costeiras e mais interiores.
Com toda essa redistribuição, o clima global também sofreria profundas alterações, já que isso traria mudanças nas correntes oceânicas, essenciais para a regulação do clima da Terra.
Isso quer dizer que, além da destruição inicial, haveria um efeito cascata sobre os ecossistemas marinhos e terrestres, com alterações drásticas nos habitats.
Ventos extremos e noites longas
Outro ponto de destaque nessa situação – repetindo, completamente hipotética – é a atmosfera, que permaneceria em movimento por um tempo também devido à inércia.
E, ainda segundo Vidale, isso resultaria em ventos catastróficos, com velocidades superiores a 1.000 km/h nas regiões próximas ao equador.
🌀Esse cenário extremo afetaria principalmente essas áreas por causa do fenômeno conhecido tecnicmanete como Efeito Coriolis.
Ele existe porque, enquanto a Terra gira, o movimento do ar não segue uma linha reta, mas sofre um desvio. Esse efeito afeta principalmente os ventos que percorrem longas distâncias, como os que formam tempestades e ciclones.
E a força de Coriolis é mais forte perto dos polos e vai diminuindo conforme nos aproximamos do equador. No equador da Terra, por exemplo, essa força é praticamente inexistente.
É por isso também que, no Brasil, que está perto da linha imaginária, é mais difícil furacões se formarem, já que a força de Coriolis não é tão intensa aqui.
“Se a Terra parasse de girar de repente, tudo o que não estivesse preso a ela seria lançado nessa velocidade, na direção leste, que é para onde a Terra gira. Isso incluiria até prédios, que provavelmente se desintegrariam”, afirma o astrofísico Thiago Gonçalves, diretor do Observatório do Valongo, do Instituto de Astronomia da UFRJ.
globo girando
Marco Verch/ccnull.de
Além disso, com a rotação parada, os dias e noites passariam a durar cerca de seis meses.
E isso causaria temperaturas extremas: calor intenso durante o dia e frio congelante à noite, dificultando ainda mais a sobrevivência de qualquer forma de vida.
As chances de sobrevivência
Justamente por isso, quanto mais perto do Equador, as chances de sobrevivência nesse cenário seriam bem menores.
Gonçalves explica que, quanto mais longe do referencial, menor seria o impacto, já que nas regiões próximas aos polos a velocidade de rotação da Terra é praticamente zero.
Para ilustrar melhor, imagine que você está dentro de um carro a 1.674 km por hora e, de repente, o carro para. Se você não estiver com cinto de segurança, vai ser arremessado para frente. É mais ou menos o que aconteceria na Terra: tudo o que não estivesse fixo à superfície seria lançado para o leste, a direção da rotação do planeta.
Mas não seriam apenas os ursos polares e os pinguins que teriam boas chances. Longe da superfície, os fundos dos oceanos também demorariam para sentir a diferença, e peixes sobreviveriam por lá. Agora sobre os humanos…
“Possivelmente só sobreviveriam os que estivessem em bunkers enterrados e de preferência encravados em rochas fundas”, diz Bergmann.
LEIA TAMBÉM:
A Terra vai ser engolida pelo Sol? VÍDEO explica
Como será o espetacular e brutal final da Estação Espacial Internacional
TELESCÓPIOS: vale a pena ter uma luneta em casa?
EXOPLANETA: Sinais de rádio indicam que planeta fora do Sistema Solar pode ter característica fundamental para ser habitável
Entenda no vídeo abaixo por que o James Webb é de fato um supertelescópio.
Compare as fotos do supertelescópio James Webb com seu antecessor
Adicionar aos favoritos o Link permanente.