Em meio à maior alta histórica de preço, recebimento de amêndoas de cacau recua 18,5% em 2024

Processamento de amêndoas também apresentou retração no último ano, de 9,5%

Em 2024, o setor de cacau no Brasil enfrentou um cenário desafiador, marcado por uma significativa redução no recebimento de amêndoas e na moagem pela indústria processadora.

Durante o ano, foram recebidas 179.431 toneladas de amêndoas de cacau, uma queda de 18,5% em relação às 220.303 toneladas de 2023, segundo os dados compilados pelo SindiDados – Campos Consultores e divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).

No quarto trimestre, a redução foi expressiva, com 54.435 toneladas recebidas, 5% abaixo das 57.353 toneladas do mesmo período do ano anterior.

Esse desempenho reflete os impactos de fatores climáticos adversos e a incidência de pragas, como a vassoura-de-bruxa e a podridão-parda, que comprometeram severamente a produção nacional.

“Infelizmente, este ano a produção brasileira sofreu também com os extremos climáticos, e algumas regiões tiveram muitos problemas com pragas. O Brasil ainda não produz o suficiente para atender à necessidade da indústria instalada no País e, por isso, dependemos de importação”, comentou Anna Paula Losi, presidente-executiva da AIPC.

“Esses desafios reforçam a necessidade de políticas de suporte à produção nacional, para garantir maior resiliência e sustentabilidade ao setor” reforça.

Recebimento por estado: Impactos nos Principais Estados Produtores

Em 2024, os principais estados produtores de cacau no Brasil enfrentaram uma redução generalizada no volume de amêndoas entregues à indústria processadora, refletindo os desafios enfrentados pelo setor.

A Bahia reduziu sua participação de 136.165 toneladas (61,8% do total em 2023) para 106.481 toneladas (59,3% do total em 2024), representando uma queda de 21,8%.

O Pará registrou 65.654 toneladas, 11,9% a menos que as 74.504 toneladas do ano anterior, com 36,6% de participação nacional.

No Espírito Santo, o volume caiu 21% (de 7.558 para 5.968 toneladas), enquanto Rondônia apresentou um recuo de 30,7% (de 1.899 para 1.316 toneladas).

A contribuição de outros estados foi de apenas 12 toneladas em 2024.

Essas quedas acentuadas reforçam o impacto de condições climáticas e a incidência de pragas.

No quarto trimestre de 2024, a Bahia manteve sua liderança com 43.285 toneladas, enquanto o Pará apresentou 8.714 toneladas, uma queda em relação ao mesmo período de 2023 (8.643 toneladas).

Moagem nacional: queda na demanda

A moagem também apresentou retração, totalizando 229.334 toneladas em 2024, uma redução de 9,5% em relação às 253.507 toneladas processadas em 2023.

No último trimestre, a moagem caiu 5,5%, passando de 63.025 toneladas, em 2023, para 59.589 em 2024. Ao compararmos o último trimestre com o trimestre anterior de 2024, houve um pequeno acréscimo de 7,62%.

“Nos últimos dois trimestres, temos verificado uma queda relevante na moagem de cacau no Brasil, sinalizando uma queda na demanda dos derivados, o que possivelmente é reflexo dos aumentos dos custos de produção, em razão das altas expressivas do preço da matéria-prima no último ano.”

Balança Comercial do Cacau: Queda nas Importações e Crescimento nas Exportações de Derivados

Em 2024, o comércio internacional de cacau e seus derivados apresentou dinâmicas contrastantes. As importações de amêndoas de cacau diminuíram significativamente, passando de 43.106 toneladas, em 2023, para 25.501 toneladas, em 2024.

Segundo Anna Paula, “como as importações são negociadas com meses de antecedência e, em 2023, a produção de amêndoas teve um bom desempenho, garantiu-se, assim, uma maior disponibilidade interna de matéria-prima.

Esse cenário, no entanto, foi diferente em 2024, com uma redução importante na produção, o que impactará diretamente na necessidade de importação em 2025”.

Por outro lado, as exportações de derivados de cacau cresceram, totalizando 50.257 toneladas, um aumento de 6,2% em relação às 47.335 toneladas exportadas em 2023.

Este avanço foi impulsionado principalmente pelos últimos três trimestres do ano, que registraram volumes superiores ao mesmo período de 2023, destacando a crescente competitividade dos derivados brasileiros no mercado externo.

A Argentina liderou o ranking de destinos, com 23.3 mil toneladas em importações, seguida pelos Estados Unidos (8.1 mil toneladas) e Países Baixos (6.2 mil toneladas).

Países sul-americanos como Chile, Peru, Uruguai e Bolívia também representaram mercados importantes, reforçando a relevância regional do Brasil como fornecedor de derivados de cacau.

“Esse desempenho positivo nas exportações reflete a capacidade da indústria nacional de agregar valor à produção e atender às demandas de mercados diversificados”, destaca Anna Paula Losi.

Todas as informações relacionadas ao comércio exterior foram obtidas a partir dos dados do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), reforçando a precisão e a credibilidade das análises apresentadas.

Análise do mercado internacional: alta histórica

Em 2024, os preços do cacau atingiram níveis históricos. Esse aumento expressivo reflete um contexto global de oferta restrita, marcado pelo terceiro déficit mundial consecutivo.

De acordo com Anna Paula Losi, a crise de produção na principal região produtora – a África – em razão dos extremos climáticos, aliados ao envelhecimento das áreas produtivas, que ficaram ainda mais suscetíveis a perdas de produtividade e até mesmo de plantas, são os principais motivadores deste cenário de redução de oferta.

“​​O mercado global tem buscado alternativas para superar a crise na África, além da diversificação da produção em outras regiões. A cadeia global do cacau tem demonstrado resiliência para garantir que este mercado não entre em colapso diante deste cenário de incertezas e oscilações de preço”, analisa.

Rafael Borges e Lucca Bezzon, do departamento de inteligência de mercado da StoneX, avaliam que o ano de 2024 foi inédito para o mercado de cacau, refletido principalmente pela expressiva alta dos preços internacionais, consolidando o cacau como a commodity mais valorizada do período.

O segundo contrato contínuo de Nova Iorque (ICE-US) registrou avanço de 165% desde o início do ano, saltando de 4.238 USD/ton para 11.040 USD/ton.

Essa movimentação não se limita aos eventos de 2024, mas reflete um contexto mais amplo de desequilíbrios sucessivos na oferta global.

O fim da safra 2023/24 (out-set) confirmou o terceiro déficit mundial consecutivo, acumulando 758 mil toneladas de saldo negativo desde 2021/22.

Atualmente, diante da incerteza quanto à temporada 2024/25, as cotações futuras seguem pressionadas, sustentando a volatilidade do mercado.

De acordo com Borges e Bezzon, entre o final de 2023 e o início de 2024, as entregas fracas de amêndoas na Costa do Marfim, maior produtor global, em meio a problemas produtivos no país, foram o principal gatilho para a elevação da percepção de risco, culminando no primeiro pico de preços do ano, em abril.

Apesar da volatilidade característica de um cenário de oferta restrita, as cotações passaram a recuar gradualmente, impulsionadas pela expectativa de recuperação produtiva dos países da região na safra 2024/25.

Inicialmente, esse otimismo parecia se confirmar pelas entregas mais robustas reportadas. Contudo, chuvas mais intensas em outubro e o início da estação seca aumentaram os relatos de perdas produtivas, revertendo o cenário otimista. Diante da incerteza, os preços futuros voltaram a subir a partir de outubro, atingindo novo pico em 18 de dezembro.

Junto a isso, a demanda mais resiliente, em última análise, aponta para a possibilidade de continuidade do descompasso entre oferta e demanda globais.

Por fim, intensificando ainda mais a volatilidade, o número de contratos abertos de cacau nas bolsas internacionais atingiu o menor nível em pelo menos uma década.

Ao longo do ano, especuladores e participantes comerciais reduziram significativamente sua atuação devido às fortes oscilações nos preços e ao aumento das margens de garantia exigidas pelas bolsas, que saltaram de 1.800 USD para 15.720 USD.

Esse aumento das margens exigidas afastou os agentes das bolsas e reduziu a liquidez do mercado, promovendo ainda mais instabilidade nos preços.

Assim, o mercado de cacau inicia 2025 cercado por incertezas. Em particular, investidores devem acompanhar de perto novos dados de oferta, especialmente quanto à possível concretização de uma desaceleração no ritmo de entregas de cacau na África Ocidental.

No âmbito da demanda, sinais de arrefecimento na moagem, potencialmente decorrentes dos custos elevados do cacau e sua substituição por outros produtos, também devem ser monitorados.

Por fim, a relação estoques-demanda baixa e a menor quantidade de agentes no mercado futuro devem manter o mercado volátil, destacam os analistas. 

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