Para algumas pessoas, a experiência de jogar videogame pode se tornar bastante irritante quando alguém está ao seu lado dizendo aquilo que deve ou não fazer. Porém, se você não faz parte desse grupo, talvez goste do Project AVA, uma novidade divulgada pela Razer durante a CES 2025.
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Crédito: Divulgação/Razer
Realizada em Las Vegas entre os dias 7 e 10 de janeiro, a Consumer Electronics Show trouxe muitos expositores apostando na inteligência artificial para conquistar os consumidores. Dentre os produtos que se destacaram nessa área, o Project AVA chamou a atenção pela sua promessa de ajudar as pessoas enquanto estão jogando, mas também por ser um tanto controverso.
Descrito pela Razer como uma espécie de copiloto, o que o Project AVA fará é analisar, várias vezes por segundo, tudo aquilo que estivermos fazendo no jogo, para assim “sempre ter as respostas para os desafios mais durões.” Veja a descrição feita pela empresa na página dedicada ao sistema:
“De treinador profissional de eSports a especialista em otimização de hardware, passando por guia de jogos onipotente, diga olá ao companheiro gamer mais inteligente já criado. Desenvolvido for gamers, by gamers, o Project AVA — seu copiloto gamer com IA dedicado —, permitirá que você receba conselhos especializados em tempo real para melhorar seu gameplay.”
Desta forma, a Razer espera oferecer um sistema de ensino dinâmico aos jogadores, com eles podendo melhorar seu desempenho tanto em jogos online, quanto naqueles voltados para serem aproveitados sozinhos.
Como mostrado pela empresa, imagine, por exemplo, iniciar uma partida no Black Myth: Wukong e ter o auxilia de um “treinador” que lhe dirá antecipadamente quando desviar de um ataque, quais golpes dos inimigos merecem mais atenção, ou quando usar um item para recarregar a energia.
Crédito: Reprodução/YouTube
Já durante uma sessão de League of Legends, a inteligência artificial poderá ajudar sugerindo qual caminho seguir, a magia a ser utilizada e os melhores itens para termos equipados. Até mesmo o estilo de jogo do adversário poderá ser revelado, considerando seu histórico em uma equipe de eSports.
Pois é aí que a proposta do Project AVA ganha contornos mais polêmicos. Se durante um jogo singleplayer a utilização de algo assim pode não ser muito diferente de um daqueles guias impressos que existem há décadas, até que ponto esse tipo de ajuda durante um torneio — ou mesmo em uma simples partida multiplayer — não seria considerado trapaça?
Em certos casos, como em um MOBA ou um jogo de estratégia em tempo real, ter o auxílio de uma inteligência artificial que estará constantemente verificando o mapa e consequentemente a posição do adversário não seria algo como um doping virtual? Mesmo com um possível atraso nas sugestões, a pessoa que tiver a ajuda de algo assim contaria com uma vantagem com grande potencial para lhe garantir a vitória, e a Razer faz questão de salientar isso.
“Domine o meta em qualquer jogo de competição com insights profissionais em tempo real enquanto você joga, com a orientação dos dados dos melhores técnicos e jogadores do Team Razer,” diz a empresa.
Crédito: Reprodução/X
Já outro ponto mencionado por eles é a maneira como o Project AVA criará um relatório após as partidas, resumindo como o jogador se saiu. “Analise e reveja seu desempenho com uma recapitulação pós-jogo personalizada, dando destaque às principais jogadas e às áreas de melhoria,” explicam.
Quanto ao receio de um sistema assim parecer muito intrusivo, afinal a voz do treinador virtual se sobreporá ao áudio do jogo sempre que um conselho acontecer, a Razer afirma que o funcionamento será opcional, com o usuário podendo escolher por receber as dicas somente enquanto estiver em momentos mais tranquilos ou entre as partidas. Além disso, também será possível receber os comentários apenas por uma caixa de texto.
Já outra utilidade para o Project AVA será otimizar o desempenho das nossas máquinas. Segundo a Razer, com ele poderemos garantir que o computador esteja rodando o jogo da melhor maneira possível, reduzindo o tempo de carregamento, otimizando a taxa de frames e entregando a melhor qualidade visual. Tudo graças à inteligência artificial.
Embora o projeto ainda esteja dando seus primeiros passos, com inscrições abertas para o período de beta, será interessante ver como os jogadores e as próprias desenvolvedoras reagirão a essa proposta. No caso de torneios, é possível que a utilização de algo assim até seja proibida, mas em uma época em que empresas investem tanto para combater os trapaceiros, será que esse sistema de ajuda não será enquadrado como tal?
Porém, mesmo no caso de o Project AVA ficar restrito apenas a jogos singleplayer, sua proposta poderá levantar o debate sobre outros dois pontos: o primeiro diz respeito ao incentivo de que outras empresas adotem sua ideia, o que parece inevitável. Já o segundo diz respeito a algo que muito tem sido discutido em relação à inteligência artificial, que é a falta de créditos ao material utilizado para alimentar esses sistemas.
Por servir como uma espécie de evolução dos guias de detonados, a Razer deverá se valer desse conteúdo ou mesmo daqueles disponibilizados na internet, como os disponíveis no GameFAQs, mas provavelmente sem mencionar quem criou esse conteúdo. E se isso acontecer, as reclamações por parte daqueles que criticam esse aspecto da IA serão inevitáveis.
Em creve, num Project AVA perto de você! (Crédito: Reprodução/Thomas Heim/ArtStation)
Contudo, a Razer não é a primeira nesta tentativa de nos ajudar enquanto jogamos. A Sony já havia implementado algo parecido com a chegada do PlayStation 5 e quem joga League of Legends já deve ter ouvido falar no Backseat AI, sistema que funcionava justamente como um treinador por voz que dava dicas durante as partidas.
De qualquer forma, é inegável pensar que estamos vivendo em uma época interessante, onde deixamos de ser incomodados por uma fadinha que vivia chamando nossa atenção a todo momento, para termos nossos jogos invadidos por outra inteligência artificial. Pelo menos essa terá, assim espero, uma variedade maior de frases para nos atormentar.
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