Mesmo com uma maior cautela no uso do crédito, o cartão de crédito continua sendo o principal meio de pagamento entre as famílias brasileiras endividadas em setembro de 2024, segundo um estudo inédito da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O levantamento revelou que 30% dos consumidores endividados utilizam o cartão de crédito para adquirir itens essenciais, como alimentação, roupas e calçados, destacando a importância dessa modalidade no consumo cotidiano, mesmo com os altos juros.
O estudo também indicou que 67% dos entrevistados não utilizam o cartão para pagar serviços essenciais como energia elétrica, telefone e água, enquanto 30% afirmaram que usam essa forma de pagamento para despesas com alimentação e vestuário. No entanto, a crescente dependência do cartão de crédito, combinada com as elevadas taxas de juros, aumenta o risco de inadimplência. “A alta dos juros encarece o acesso ao crédito, o que pode prejudicar tanto os consumidores quanto as empresas”, alerta o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
Endividamento recua
Apesar da utilização frequente do cartão de crédito, o percentual de famílias endividadas registrou sua terceira queda consecutiva em setembro, caindo para 77,2%. Esse número é inferior ao de agosto (78%) e ao de setembro de 2023 (77,4%), evidenciando um movimento de maior cautela entre as famílias ao contrair dívidas. No entanto, a inadimplência voltou a subir, atingindo 29% dos lares, o que interrompeu três meses de estabilidade. Além disso, o número de famílias que afirmam não ter condições de pagar suas dívidas vencidas chegou a 12,4%, o maior índice em quase um ano.
Para o último trimestre de 2024, a CNC projeta que o endividamento pode voltar a crescer devido ao aumento das compras de fim de ano, enquanto o percentual de inadimplentes pode chegar a 29,4%, tornando o cenário financeiro das famílias brasileiras ainda mais desafiador.
A pesquisa da CNC destacou um aspecto preocupante: a utilização do cartão de crédito, apesar de necessária para muitos consumidores, está amplamente concentrada em despesas do dia a dia. A alimentação, por exemplo, foi apontada como um dos principais itens pagos por essa modalidade, o que revela uma dependência do crédito rotativo para o suprimento de necessidades básicas. Isso ocorre em um contexto de juros elevados, em que o custo do crédito se torna mais oneroso, dificultando o pagamento em dia. “O cartão de crédito, que deveria ser utilizado com planejamento e para compras específicas, tem se tornado o meio de pagamento mais usado, o que expõe as famílias a um ciclo de endividamento crescente”, explica o economista Felipe Tavares.
Comportamento
Além disso, o estudo revela comportamentos distintos em relação a outras despesas, como saúde e educação. Enquanto 70% dos entrevistados afirmaram que nunca utilizam o cartão de crédito para pagar despesas educacionais, uma parcela de 17% o utiliza com frequência para cobrir gastos com saúde e higiene pessoal, como medicamentos e planos de saúde. Isso demonstra que, para muitas famílias, o cartão de crédito também é um recurso de última instância para lidar com despesas imprevistas ou essenciais, o que pode comprometer ainda mais o orçamento familiar quando as dívidas acumuladas se tornam impagáveis.
A perspectiva para o último trimestre de 2024 é de cautela, tanto para o consumo quanto para o endividamento. Com a aproximação das festas de fim de ano, a demanda por crédito tende a aumentar, impulsionada por compras de Natal e viagens de férias. No entanto, o cenário de alta nas taxas de juros e a pressão sobre a renda das famílias impõem limites ao crescimento do consumo. “O grande desafio para os próximos meses será equilibrar a necessidade de consumo com o risco de inadimplência. Se por um lado o crédito ajuda a manter o comércio ativo, por outro, ele pode agravar a situação das famílias, caso não seja utilizado com cuidado”, finaliza Tadros, destacando a necessidade de políticas econômicas que aliviem o custo do crédito no país.
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