O Banco Central do Brasil avança com a segunda fase de testes do Drex, o real digital, que agora foca em operações com imóveis, negociação de veículos e transações com ativos do agronegócio. A meta desta etapa é explorar a implementação de serviços financeiros por meio de contratos inteligentes, que serão criados e geridos por participantes da rede, visando impactar diretamente o cotidiano das pessoas.
Enquanto a primeira fase dos testes priorizou o desenvolvimento tecnológico, a nova etapa se concentra em casos de uso práticos. “Buscamos criar soluções aplicáveis no dia a dia dos nossos clientes, identificando tanto limitações quanto oportunidades com a estrutura atual”, afirma Julierme de Souza, gerente-executivo de tecnologia do Banco do Brasil (BB). A instituição participa dos testes em temas como transações imobiliárias e crédito colateralizado em CDB (Certificado de Depósito Bancário), junto a outros players do mercado.
No campo das transações imobiliárias, os testes envolvem desde operações simples, como compra e venda, até processos mais complexos, como o financiamento de imóveis já financiados, conhecidos como quitação com interveniente quitante. Instituições como a Caixa Econômica Federal, em parceria com Elo e Microsoft, e o consórcio SFCoop (incluindo cooperativas como Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred) também estão envolvidas, buscando automatizar etapas com contratos inteligentes, como a transferência de recursos e a mudança de titularidade do imóvel.
A descentralização da governança dos contratos é apontada como um dos grandes desafios. “Queremos tornar essas operações mais rápidas, fluidas e automatizadas”, destaca Souza, enfatizando a importância de uma estrutura descentralizada para a execução dos contratos.
No segmento de crédito colateralizado, o plano é permitir que clientes possam tomar empréstimos usando como garantia CDBs tokenizados emitidos por outras instituições financeiras. Atualmente, essas operações são mais centralizadas, mas a proposta do Drex busca flexibilizar esse mercado. Itaú e Bradesco, junto com Nuclea e Setl, participam dessa iniciativa, que pode se transformar em um novo negócio a médio prazo, segundo Souza.
A MB (Mercado Bitcoin), uma das principais plataformas de criptomoedas do Brasil, também marca presença com quatro propostas de desenvolvimento para o Drex. Entre as iniciativas estão o crédito colateralizado em títulos públicos, a criação de piscinas de liquidez para negociação de títulos, e operações com ativos do agronegócio, além de transações em redes públicas. Fabrício Tota, diretor de Novos Negócios do MB, destaca o potencial de tokenização de ativos do agronegócio, como títulos de crédito baseados em safras, propriedades ou recebíveis. A ideia é emitir novos ativos financeiros lastreados nesse setor, trazendo mais liquidez e melhor formação de preços.
O MB atua ao lado de empresas como XP, Visa e TecBan, em um esforço para entender a estrutura necessária para atrair mais investidores para o mercado tokenizado do agronegócio. Tota vê com otimismo os testes em redes públicas, que podem utilizar plataformas abertas como Solana e Ethereum. Ele acredita que o sucesso do Drex pode depender da viabilidade do real digital se expandir para fora de ambientes controlados, permitindo maior inovação no setor financeiro.
Nos próximos meses, serão avaliadas as possibilidades de implementar ativos tokenizados em redes abertas, observando rigorosamente as regulações em vigor. “É um teste provocativo e arriscado, mas com potencial de trazer inovações significativas”, conclui Tota, destacando a importância de uma moeda digital emitida por Banco Central que possa operar em ambientes descentralizados. A expectativa é que o Drex se torne realidade em até dois anos, revolucionando a forma como transações financeiras são realizadas no Brasil.
Na avaliação do economista Helder Cavalcante, a implementação do Drex, o real digital, especialmente ao focar em operações de imóveis, veículos e ativos do agronegócio, representa um avanço significativo na modernização do sistema financeiro brasileiro. “Ao utilizar contratos inteligentes, que automatizam e garantem a execução de transações, o Drex pode reduzir custos, aumentar a eficiência e trazer maior transparência para setores estratégicos da economia. A inclusão do agronegócio, por exemplo, tende a fortalecer a competitividade do setor, melhorando o acesso ao crédito e a gestão de ativos. No longo prazo, a integração dessas inovações pode transformar o cotidiano financeiro de consumidores e empresas, democratizando o acesso a serviços financeiros complexos”, disse.
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