Entre a dor e o riso – Denise Fraga no caminho da empatia

Se preparando para lançar três filmes nos cinemas em 2025, a atriz Denise Fraga estará em Fortaleza a partir desta quinta 20/03, no Theatro José de Alencar, apresentando o espetáculo “Eu de Você”. Em entrevista ao jornal O ESTADO, ela compartilha reflexões sobre seu trabalho no palco e a profunda conexão com o público que a acompanha. Na peça ela une literatura, música e histórias reais para criar um espetáculo que fala sobre as dores e belezas da vida cotidiana e como o humor se torna uma ferramenta poderosa para a reflexão e a empatia.

A atriz também comenta sobre o impacto das pausas, como a da pandemia, no processo criativo e como o retorno aos palcos se tornou ainda mais potente. Além de seu trabalho no teatro, Denise compartilha suas vivências na televisão e cinema, destacando a evolução de sua carreira e sua constante busca por projetos que a alimentem artisticamente. Para ela, o teatro sempre será sua “casa”, um lugar onde a comunicação e a troca com o público são essenciais para a compreensão do mundo e das diferentes perspectivas da vida.

O ESTADO | A peça “Eu de Você” conta histórias reais com elementos de literatura e música para criar uma narrativa coesa?
DENISE FRAGA | Eu acho que nos surpreendemos com o Eu de Você, porque o espetáculo foi criado na sala de ensaio, a partir de histórias que a gente recebeu por cartas, e-mails e vídeos. Era final de 2018, estávamos muito tristes com tudo o que estava acontecendo com o país. As cartas que chegavam traziam histórias de solidões, melancólicas. E a ideia era essa, não era como o Retrato Falado, com as histórias pitorescas e traços de humor. No anúncio que colocamos no jornal eu já falava que queria subir no palco para contar as histórias de todos, calçar os sapatos dessas pessoas.

Nessa colocação, eu acho que eu já pedia uma certa profundidade. Eu falava que não precisava ser uma história inteira, que podia ser uma noite, um pedaço de cena vivida, um pedaço de uma memória que você não esqueceu. Esses pedaços de vida eram de solidões, histórias muito íntimas, coisas que as pessoas não postariam. Eu fiquei muito responsabilizada com o que me foi confiado. Eu falava que não queria fazer um espetáculo triste, mas não conseguia. Não queria ser leviana com aquelas histórias, eu queria dar conta daquela profundidade. Acho que a gente se propôs a tratar com leveza da vida dura cotidiana.

O E. | De que maneira o humor cotidiano presente em “Eu de Você” serve como ferramenta para reflexão sobre a condição humana?
Não existe viver sem trauma. E o que a gente faz com esses traumas? Isso que a gente precisa partilhar, a história de cada um e as maneiras de lidar com essas adversidades. Acho que talvez isso seja o ingrediente do sucesso desse espetáculo e da empatia que causa, porque todo mundo se identifica.

Acho que toda ideia pode ser passada com humor. O humor é um ingrediente muito poderoso para a comunicação. É um abridor de caminhos para a inteligência, para o pensamento. O humor é completamente linkado à inteligência. Fazemos parte de uma grande roda, que é a roda da humanidade. Todo mundo tem problema e todos vão sofrer, não tem jeito. Mas ainda há uma coisa, que é a beleza da existência, estar no jogo da vida.

O E. | Quais são as expectativas para a temporada de “Eu de Você” em Fortaleza, especialmente após o sucesso das sessões anteriores com ingressos esgotados?
D. F. | A gente esteve aí na Caixa Cultural, foi incrível, lindo. Eu agradeço profundamente essas pessoas que enfrentaram aquela fila para nos ver. Eu até desculpo a fila. É um teste de resistência para pessoas que querem muito ver e, às vezes, não têm nem condições de ver de outra maneira, que não seja com ingresso gratuito. E eu agradeço muito, ver aquelas pessoas com as suas cadeirinhas armadas, sentadas, às vezes, no sol, esperando horas antes de começar a distribuição dos ingressos. É uma coisa muito gratificante. Eu fico com a dor no coração. Mas, ao mesmo tempo, eu só posso agradecer.

O E. | De que maneira a peça “Eu de Você” aborda a temática da empatia e da compreensão mútua entre indivíduos de diferentes origens e experiências?
D. F. | O Eu de Você é um convite a você passar pela experiência do outro. Não é um espetáculo exatamente interativo, mas eu incluo a plateia na cena. Às vezes eu olho no olho de alguém e ele vira o meu interlocutor, sem precisar fazer nada. Mas eu sinto que a peça convida você a sentir o que o outro sentiu. Mais do que só essa coisa catártica do teatro, a peça tem esse jogo. Essa peça faz eu ver uma coisa muito legal, que é as pessoas gargalhando e enxugando lágrimas.

Denise Fraga volta ao Palco do Theatro José de Alencar para realizar seu primeiro trabalho solo. Construído na sala de ensaio, num processo colaborativo entre o público, a atriz e uma equipe de criadores, a dramaturgia parte da delicada seleção de histórias reais costuradas com pérolas da literatura, da música e do audiovisual. Rompendo a fronteira entre palco e a plateia, fato e ficção, pedaços de vida embalados pela arte, que ampliam o Teatro para uma real experiência de empatia com reflexões a respeito do que nos mantém humanos num mundo cada vez mais inábil nas relações, nos afetos, na solidariedade.

Por Felipe Palhano

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