Entre elas, está o baço — e, às vezes, ele pode se regenerar sem que as pessoas percebam As amígdalas podem voltar a crescer após serem removidas
Getty Images via BBC
O corpo humano é composto por mais de 37 trilhões de células, cada uma com uma vida útil limitada.
Estas células são continuamente substituídas para manter a função dos órgãos e sistemas do organismo.
No entanto, com o passar do tempo, ou como resultado de danos, o número de células em funcionamento pode diminuir a um nível que cause sintomas ou até mesmo a falência do órgão.
A regeneração de órgãos e sistemas é um santo graal científico que depende das células-tronco — mas, devido ao seu número limitado e à lenta taxa de divisão, este não é um caminho prático para a regeneração de órgãos.
Seriam necessários muitos anos para repovoar todos os tipos de células necessários.
No entanto, algumas pessoas veem seus órgãos “reaparecerem”, como Katy Golden, que teve as amígdalas removidas pela segunda vez quando adulta, depois que elas voltaram a crescer ao longo de 40 anos.
Um dos motivos pelos quais as amígdalas podem voltar a crescer é o fato de uma das operações para removê-las ser uma amigdalectomia parcial.
A remoção de apenas parte das amígdalas leva a uma recuperação mais rápida e a menos complicações, mas cerca de 6% das crianças podem apresentar recrescimento, o que pode exigir uma nova cirurgia mais adiante na vida.
A maioria das pessoas associa a regeneração de órgãos ao fígado.
Uma porção de apenas 10% do fígado pode voltar a crescer e se tornar um fígado totalmente funcional.
É assim também que os transplantes parciais de fígado permitem que o órgão do doador volte a crescer até um tamanho normal e totalmente funcional.
O fígado tem uma capacidade impressionante de regeneração
Getty Images via BBC
Um órgão que tem uma capacidade surpreendente de se regenerar é o baço — e, às vezes, ele pode se regenerar sem que as pessoas percebam.
O baço é um órgão de alto risco de lesão, e é o órgão mais comumente lesionado em traumas abdominais contundentes durante acidentes de trânsito, lesões esportivas ou atividades triviais, como esbarrar em móveis.
O baço é de alto risco porque tem muitos vasos sanguíneos e, portanto, bastante sangue, mas é circundado apenas por uma cápsula fina que pode se romper em caso de trauma, permitindo que o sangue vaze. Isso pode resultar em morte se não for tratado imediatamente.
Além disso, pequenos pedaços do baço — às vezes, apenas algumas células — podem ser liberados no abdômen e “crescer” no local onde se instalam, o que é chamado de esplenose, passando a ter atividade funcional semelhante à de um baço maduro com localização normal.
Isso pode ser benéfico para aqueles que precisam ter o baço removido devido a lesões traumáticas, com alguns relatos sugerindo regeneração em até 66% dos pacientes.
Nos últimos anos, nossos pulmões também demonstraram ter capacidade regenerativa.
É sabido que o tabagismo e outros poluentes destroem os alvéolos (pequenos sacos de ar) por onde o oxigênio passa para o sangue. Foi demonstrado que parar de fumar permite que as células que evitaram os danos causados pelos produtos químicos causadores de câncer na fumaça do tabaco ajudem a regenerar e repovoar o revestimento de partes das vias aéreas com células saudáveis.
Quando um pulmão é removido, o pulmão remanescente precisa se adaptar para sustentar os tecidos do corpo e garantir que chegue oxigênio suficiente até eles.
Estudos mostram que o pulmão remanescente aumenta o número de alvéolos que possui, em vez de os alvéolos remanescentes compensarem aumentando de tamanho para absorver mais oxigênio.
Não são apenas os órgãos internos que se regeneram. Um órgão que faz isso constantemente em uma escala gigantesca é a pele.
Por ser o maior órgão, ela tem várias funções de barreira para manter, por exemplo, a água dentro, e os germes fora. Com uma área de superfície de quase 2 m², a pele requer uma quantidade significativa de regeneração para repor as 500 milhões de células que são perdidas todos os dias — isso representa mais de 2 g de células epiteliais por dia.
Regeneração de tecidos é muito mais comum
Um dos tecidos regenerativos mais ativos é o revestimento endometrial do útero, que é eliminado a cada 28 dias como parte do ciclo menstrual, e passa por cerca de 450 ciclos durante a vida da mulher.
Esta camada varia de 0,5 a 18 mm de espessura, dependendo do estágio do ciclo menstrual, de células funcionais que são perdidas junto ao sangue dos vasos que sustentam um óvulo fecundado caso ele se implante.
A genitália masculina também pode apresentar regeneração. A vasectomia, que remove um pedaço do tubo (canal deferente) que conecta os testículos às aberturas da uretra, é usada para reduzir a chance de gravidez, impedindo que os espermatozoides se desloquem dos testículos para fora do pênis.
No entanto, as extremidades cortadas dos dutos demonstraram capacidade regenerativa, e se reconectaram.
Algumas partes, em que até 5 cm foram restringidos ou removidos, apresentaram regeneração, mesmo por meio de tecido cicatricial. Esta “recanalização” pode resultar em gestações inesperadas.
O osso é outro tecido que pode se regenerar. Se você já quebrou um osso, sabe que ele se repara para que (posteriormente) você recupere a função.
Esse processo de reparo da fratura leva de seis a oito semanas. Mas o processo de regeneração da arquitetura e da força do osso continua por meses e anos.
No entanto, com o aumento da idade e em mulheres na pós-menopausa, esse processo fica mais lento, e o osso pode não regenerar até alcançar sua força ou estrutura anterior.
Quando existem pares de órgãos, e um deles é perdido, há boas evidências de que o órgão remanescente pode aumentar sua capacidade funcional para ajudar o corpo a lidar com a manutenção da função. Por exemplo, quando um rim é removido, o rim remanescente aumenta para lidar com a carga de trabalho extra, filtrando o sangue e eliminando resíduos com eficiência.
Embora a regeneração de órgãos seja rara, ela acontece e normalmente leva anos para se manifestar, porque os órgãos são estruturas complexas.
Estudos estão em andamento para tentar entender como os cientistas podem desenvolver esse conhecimento para ajudar na escassez de órgãos de doadores.
Felizmente, a regeneração de tecidos acontece com muito mais frequência do que muita gente imagina, e é uma parte bastante necessária para se permanecer vivo.
* Adam Taylor é professor e diretor do Centro de Aprendizagem de Anatomia Clínica da Universidade de Lancaster, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).