Trama golpista: 1ª delação de Cid citou 9 dos 40 indiciados pela PF

No primeiro depoimento da delação premiada que fez à Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), citou nove das 40 pessoas que acabaram sendo indiciadas pela PF sob suspeita de participação na tentativa de golpe de Estado, após a vitória de Lula (PT) nas eleições de 2022.

Conforme a íntegra do documento, de agosto de 2023, obtida pelo colunista Elio Gaspari (Folha S.Paulo), Cid apontou 20 nomes que estariam envolvidos na trama golpista, mas nem todos foram indiciados, mais de um ano depois, pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

No depoimento, o militar já sugeria o envolvimento dos generais Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato derrotado a vice-presidente; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército, e Mario Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência. Cid também apontava a participação direta do então assessor de Bolsonaro Filipe Martins, considerado um dos principais articuladores do plano de golpe, e do então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, que teria colocado as tropas à disposição do golpe.

Aparecem ainda o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o major Angelo Denicoli, indiciado pela PF sob suspeita de ter fornecido arquivos com informações falsas sobre as urnas eletrônicas. Mesmo tendo sido descrito por Cid no primeiro interrogatório como legalista, o general Estevam Theophilo, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, foi citado posteriormente e indiciado pela PF.
A delação premiada de Cid com a PF foi homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, em setembro de 2023. O primeiro depoimento no âmbito da colaboração impulsionou o inquérito do golpe, mas foi complementado nos meses seguintes, avançando inclusive sobre a participação do general Braga Netto.

Há cerca de dois meses, Cid foi ouvido pessoalmente pela primeira vez por Moraes, relator do caso, sobre omissões e contradições apontadas pela PF. Entre outros pontos, o militar foi questionado por não ter comentado com os investigadores sobre o plano do general Mario Fernandes de matar Lula, Geraldo Alckmin (PSB) e Moraes no fim de 2022. O acordo foi mantido pelo ministro.
No depoimento de agosto de 2023 dado à PF, Cid dividiu os aliados de Bolsonaro após a derrota para Lula em três grupos. Narrou ainda episódios do período em que o então presidente estava isolado na residência oficial, como a ação em Brasília em 12 de dezembro de 2022.

O primeiro grupo, segundo o ex-ajudante de ordens, era “conservador, de linha bem política”. Nele estariam o senador Ciro Nogueira (PP-PI), então ministro da Casa Civil; o filho mais velho de Bolsonaro, senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ); o então advogado-geral da União, Bruno Bianco; e o ex-comandante da Aeronáutica Baptista Junior.

O segundo grupo seria formado por pessoas “moderadas” que, entendiam que “nada poderia ser feito diante do resultado das eleições” porque “qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado”. Cid falou os nomes do ex-comandante do Exército general Freire Gomes; do ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira; Theophilo; e do general Júlio Cesar de Arruda, nomeado comandante do Exército em 28 de dezembro de 2022 e demitido por Lula em 21 de janeiro de 2023.

Estavam ainda aliados que incentivavam Bolsonaro a deixar o país, como o empresário Paulo Junqueira e o ex-secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura Nabhan Garcia. Por fim, Cid aponta que existia o grupo de “radicais”: Valdemar; ex-ministro da Saúde e hoje deputado federal, general Eduardo Pazuello (PL/RJ); major Denicoli; senador Luiz Carlos Heinze (PL/RS); ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques; Filipe Martins; e Almir Garnier.

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