Desde o início do ano, tanto as instituições financeiras locais quanto as do exterior tem sistematicamente elevado as projeções de crescimento do PIB brasileiro de 2024. Os 1,4% previstos em dezembro passada mais que dobraram ante a última estimativa do Banco Central (BC) divulgada na última quinta-feira, 26, que elevou de 2,3% para 3,2% o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do corrente ano.
O consumo das famílias, os gastos do governo e dos investimentos produtivos foram os principais responsáveis pela mudança no principal indicador da economia.
Segundo o relatório, o crescimento do PIB no segundo trimestre de 2024 surpreendeu positivamente. “A atividade econômica brasileira segue mostrando dinamismo, levando a uma nova rodada de revisão para cima das projeções de crescimento no ano”.
É inconteste que a pujança do crescimento econômico, de forma constante e duradoura, é fator determinante para a busca da prosperidade, sendo necessariamente um objetivo primordial a ser galgado pelos governos de qualquer país.
Contudo, não podemos nos iludir, já que a elevação do PIB, por si, só não significa tanto quanto parece. Nem sempre o crescimento vegetativo da economia se traduz, proporcionalmente, em melhorias nos demais indicadores econômicos e da qualidade de vida da população.
A necessidade de distinguir entre economia e bem estar da população é advertência já expressa pelo filósofo da Grécia antiga, Aristóteles. Para este, a oiconomia analisava a busca da satisfação das necessidades e do bem comum, enquanto a crematística se ocupava da satisfação de desejos ilimitados, a corrida por mais e mais dinheiro.
Mais recentemente, o próprio criador do conceito e do método básico para se estimar o PIB, Simon Kuznets, economista russo naturalizado norte-americano e agraciado com Prêmio Nobel da Economia em 1971, já advertia que este não deveria ser tido como indicador da qualidade de vida da população.
Primeiro, porque o PIB não é, como alguns insistem, a soma das riquezas produzidas em certo período; o PIB estima a soma das transações monetárias com produtos finais. Ou seja, não soma transações com pneus às com automóveis pois, neste caso, aqueles estariam sendo contados duas vezes, uma enquanto pneus, outra enquanto parte do carro.
E, principalmente, pelo fato do PIB ser uma contabilidade de fluxos, e não de estoques: ele não leva em conta, particularmente, as degradações trazidas ao patrimônio natural ou à saúde social, como cigarros, agentes poluentes e armamentos, que, apesar de danosos, vendê-los aumente o PIB.
Por fim, ao reduzir a riqueza ao que é monetarizado, deixa de lado o que não é, como o voluntariado ou o trabalho doméstico.
O economista francês, Eloi Laurent, chefe do departamento de economia do renomado Instituto de Estudos Políticos de Paris (IEPP), defende a ideia que a medição do PIB agregue um quadro de parâmetros que integrem renda, desigualdades territoriais, biodiversidade, etc. Assim, certamente, teríamos um indicador mais próximo e compatível com a realidade econômica da população.
JOSÉ MARIA PHILOMENO
ADVOGADO
E ECONOMISTA
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