O Agro é Tech ou Tox?

O agronegócio brasileiro é frequentemente apresentado como um dos pilares da economia nacional, mas essa narrativa esconde um lado sombrio onde se apresenta também como um setor permeado por contradições que merecem atenção. O agro, em sua forma predominante, é tóxico e depende profundamente do apoio do governo.
Embora o discurso oficial e publicitário insista na ideia de um agronegócio moderno e sustentável, a realidade revela facetas problemáticas que colocam em xeque essa narrativa. Um dos aspectos mais críticos é a dependência estrutural do agronegócio em subsídios e financiamentos públicos, além dos impactos ambientais e sociais associados ao seu modelo de produção.
A princípio, o modelo agrícola adotado no Brasil é altamente dependente de agrotóxicos. O país é um dos maiores consumidores mundiais desses produtos, muitos deles proibidos em outros países devido aos seus impactos contra a saúde humana e no meio ambiente. A liberação de novos agrotóxicos foi facilitada, indiscriminadamente pelo governo Bolsonaro, que flexibilizou leis ambientais e sanitárias em nome do crescimento do setor. Essa “modernização” da agricultura ignora os alertas da comunidade científica sobre os efeitos devastadores no solo, nos recursos ocultos. Além disso, o setor do agronegócio recebe historicamente incentivos fiscais e subsídios milionários por parte do governo federal. Enquanto os pequenos agricultores lutam por crédito e apoio, as grandes corporações do agro são beneficiadas por políticas públicas que transferem recursos públicos diretamente para os bolsos dos gigantes do setor. Esses subsídios garantem que o agronegócio continue lucrando, mesmo em tempos de crise econômica ou de baixa nos preços internacionais das commodities.
Há ainda o impacto social desse modelo. A concentração de terras e a expansão da fronteira agrícola avançaram sobre territórios indígenas, áreas de conservação e comunidades rurais. O governo, que deveria zelar pelo cumprimento das leis ambientais e de proteção aos direitos humanos, muitas vezes faz vista grossa para as transparências cometidas pelo agro. Em vez de promover a reforma agrária e apoiar práticas agrícolas, o governo endossa o avanço de um modelo predatório que gera lucro para menos à custa da maioria.
Apesar de sua relevância econômica, grande parte do sucesso do agronegócio brasileiro depende de incentivos do governo federal, como subsídios, linhas de crédito com juros baixos, isenções fiscais e até perdão de dívidas. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Plano Safra são exemplos de políticas públicas que oferecem financiamento, principalmente para grandes produtores. Isso revela uma dependência significativa do capital público para manter o funcionamento e a competitividade do setor.
Esse apoio estatal é frequentemente justificado pela capacidade do agro de gerar empregos e divisas através de exportações, mas, em muitos casos, ele privilegia grandes conglomerados, deixando a agricultura familiar em segundo plano. O agronegócio, que ostenta recordes de produção e exportação, esconde por trás desse êxito um fardo financeiro compartilhado por toda a sociedade, que acaba subsidiando diretamente esse setor por meio de impostos.
Além da dependência financeira, outro ponto de destaque é o impacto ambiental do agronegócio brasileiro, que se revela tóxico em vários sentidos. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com um uso massivo de substâncias químicas, reitero, muitas das quais são proibidas em outros países devido aos riscos que representam à saúde humana e ao meio ambiente. A aplicação indiscriminada desses produtos compromete a qualidade da água, do solo e afeta diretamente as populações que vivem no entorno das áreas agrícolas, inclusive comunidades indígenas e tradicionais.
Outro aspecto que reforça o caráter tóxico do agro é o desmatamento acelerado, principalmente na Amazônia e no Cerrado, impulsionado pela expansão da fronteira agrícola. O desmatamento não apenas ameaça a biodiversidade, mas também agrava as mudanças climáticas, liberando grandes quantidades de carbono armazenadas nas florestas.
Portanto, apesar do discurso triunfalista que cerca o agro, é necessário olhar além das cifras de produção e exportação para enxergar as contradições desse modelo. O agronegócio brasileiro não é apenas uma potência econômica, mas também um setor profundamente dependente de financiamento público e responsável por impactos ambientais devastadores. É urgente repensar essa estrutura, investindo em modelos mais sustentáveis e justos para que o agro possa realmente ser uma força de progresso sem comprometer o futuro das próximas gerações.
Uma pergunta que fica no ar: para quem o agro produz alimento?

EDMAR XIMENES
GEÓLOGO

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