Após morte de cachorro com suspeita de zoofilia, polícia resgata 70 animais com sinais de maus-tratos em hotéis para cães em SP


Resgate ocorreu em dois endereços no Capão Redondo, Zona Sul da capital paulista. Mandados de busca e apreensão foram deferidos pela Justiça depois que uma denúncia de suspeita de zoofilia em um dos hotéis foi registrada na delegacia; responsável pelos estabelecimentos foi preso em flagrante. Polícia resgata 70 animais com sinais de maus-tratos em hotéis para cães em SP
Cachorros com sinais de maus-tratos foram resgatados de dois imóveis que prestavam serviços como hotel para cães e lar temporário no bairro do Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo.
O resgate dos 70 animais ocorreu após uma denúncia à polícia sobre a morte de um animal com suspeita de zoofilia. O responsável pelos estabelecimentos foi preso em flagrante (veja mais abaixo).
Um vídeo enviado ao g1 mostra quando policiais da 1ª Delegacia do Meio Ambiente do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania, funcionários da Divisão de Vigilância de Zoonoses, e da ONG Social Pet Friends encontraram os cachorros nos dois hotéis localizados na Rua Professora Eunice Bechara de Oliveira e na Rua Eugênio Stap.
Os cães estavam amarrados, amordaçados e com ferimentos. Em nenhum dos dois locais havia alimentos nem água, segundo consta no boletim de ocorrência.
Após o resgate, os animais foram devolvidos aos seus tutores e ONGs.
Após morte de cachorro com suspeita de zoofilia, polícia resgata 70 animais com sinais de maus-tratos em hotéis para cães em SP
Arquivo Pessoal
Denúncia
Os mandados de busca e apreensão nos dois endereços foram deferidos pela Justiça depois que uma denúncia de suspeita de zoofilia em um dos hotéis foi registrada na delegacia por funcionários da ONG Social Pet Friends.
Ao g1, uma funcionária da ONG, que prefere não se identificar, contou que, como a organização não tem sede própria, é preciso contar com lares temporários pagos para abrigar os animais que são resgatados das ruas ou de situação de maus-tratos.
Bigode, um cão vira-lata de 7 anos, por exemplo, havia sido resgatado pela equipe em dezembro de 2024 e castrado em 8 de janeiro. Em seguida, ele foi levado para o lar temporário no hotel.
“Nos indicaram esse hotel e quando fomos estava tudo em ordem. Mas sempre fomos com visita marcada. No dia 12 de janeiro, fomos ao lar temporário visitar os cães para ver como eles estavam. Bigode estava alegre e pulando. No dia 5 de fevereiro, recebi uma mensagem de um desses lares temporários me informando que o Bigode, um cão de aproximadamente 7 anos, 10 kg, havia falecido dormindo”, disse.
A funcionária afirma que é rotina na ONG que, quando animais morrem sem motivo específico, a equipe envia o corpo para necrópsia para entender o que aconteceu e, se for o caso, rever protocolos de saúde ou criar orientações de manejo nos lares temporários.
“Após encaminhar o corpo do Bigode para análise, as patologistas devolveram o laudo do óbito como causa mortis sendo ‘sepse por introdução forçada de objeto em região anal, causando laceração em toda a mucosa intestinal adjacente à entrada do ânus'”, afirmou.
O laudo da clínica veterinária indica, diante da lesão na região anal, “suspeita de abuso sexual”. Diante disso, os funcionários decidiram retirar todos os animais do lar temporário e registraram boletim de ocorrência por maus-tratos contra o responsável.
Investigação e prisão
Responsável pelos hotéis para cães foi preso em flagrante por maus-tratos a animais em SP
Arquivo Pessoal
Após o registro, a polícia passou a investigar o local. Dois mandados de busca e apreensão foram pedidos à Justiça, que os deferiu.
Os investigadores, então, cumpriram os mandados com a Divisão de Vigilância de Zoonoses e a ONG em 5 de março deste ano. Nos dois endereços havia animais em situações de maus-tratos.
“Quando chegamos ao local para pedir esclarecimentos do que havia acontecido com o Bigode, nos deparamos com algo que não imaginávamos. [Encontramos] animais amordaçados ou com uma das patas dianteiras presas perto da cernelha para terem pouco equilíbrio. Nossa prioridade, naquele momento, foi resgatar todos os animais do local”, afirmou a funcionária da ONG.
Nenhum dos dois hotéis tinha alvará de funcionamento e ambos foram autuados pela Divisão de Vigilância em Zoonose (DVZ) da Prefeitura de SP, segundo a Polícia Civil.
Bigode, de 7 anos, morreu com suspeita de ser vítima de zoofilia em SP
Arquivo Pessoal
Dos 70 animais resgatados, 10 já estavam sob cuidados da ONG Social Pet Friends. Os outros eram de tutores que pagavam o responsável pela prestação de serviço.
“Assumimos a responsabilidade por outros 20 a 30, que podem pertencer a outros tutores ou ONGs que ainda desconhecem o ocorrido. Temos trabalhado incansavelmente para identificar e contatar esses tutores e já conseguimos localizar 18”, explicou.
O responsável pelos dois hotéis e um funcionário foram encaminhados para a delegacia. O dono segue preso por maus-tratos a animais. Já o funcionário foi liberado.
Para a polícia, o responsável alegou que não seria uma situação de maus-tratos, mas “perfeitamente normal”.
“Nosso foco agora é garantir o bem-estar dos animais resgatados, oferecer os cuidados veterinários necessários e encontrar lares seguros e amorosos para cada um deles”, ressaltou a funcionária da ONG.
‘Passei mal quando vi’
A tutora de um dos cachorros que estavam no hotel contou ao g1 que chegou a passar mal quando viu a situação em que sua cachorra estava.
“Fazia quatro anos que chamávamos o responsável pelo local para passear com nossos cachorros. Ele também trabalhava como dog walker. Cheguei a ir a um dos endereços e não vi nada de errado. Mas a minha cachorra estava em outro local. Não imaginava que era desse jeito”, afirmou.
A tutora contou que chegou até o local do resgate depois que o responsável pegou sua cachorra para andar e deixá-la no hotel, mas não a devolveu e não retornava as ligações.
“Foi quando ele mandou uma mensagem dizendo que ele tinha sido denunciado e que não poderia sair do local. Eu falei: ‘Então me passa o endereço que eu estou indo buscar minha cachorra’. Eu fui e, chegando lá, foi a cena de horror. Tinham cinco carros de polícia e soube que ele tinha sido denunciado por zoofilia que e um cachorro morreu.”
A tutora também ressalta ter ficado chocada com os sinais de maus-tratos.
“Nunca imaginava essa situação. Eu passei mal na delegacia, passei mal quando fui buscá-la. Quando ele levava para passear, ela ficava no hotelzinho dele. No dia da prisão, ele estava com 10 cachorros dentro do carro dele, e os cachorros ficaram presos, com o ar-condicionado ligado. Aí um policial falou: “Por que o ar-condicionado do seu carro está ligado?” Quando abriram, viram dez cachorros. Teve cachorro que teve desidratação, teve cachorro que teve hipotermia por causa do frio, que é cachorro pequeno. Foi um show de tragédia”, ressaltou.
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Arquivo Pessoal
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