YouTube mudou o podcast, para o bem e para o mal

O conceito do podcast como um “programa de rádio na internet” não existe mais, graças ao YouTube. A plataforma revelou recentemente ser a líder em preferência pelo público, deixando Spotify e Apple comendo (muita) poeira.

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A liderança da plataforma para o consumo de podcasts revela algo que muita gente já tinha percebido, o formato teve que se adaptar e abraçar o vídeo, principalmente porque o dispositivo mais usado pelos “ouvintes” não é o smartphone, mas a TV.

Com mais gente consumindo podcasts pelo YouTube, criador de conteúdo teve que se adaptar ao formato de vídeo (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Com mais gente consumindo podcasts pelo YouTube, criador de conteúdo teve que se adaptar ao formato de vídeo (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

De podcast para Mesa Redonda, culpa do YouTube

Na última quarta-feira (26), Tim Katz, VP de Parcerias e Podcasts do YouTube, publicou no blog oficial os números da plataforma referentes à mídia em 2024, e eles impressionam: o site de vídeos atingiu a marca de 1 bilhão de espectadores mensais durante o ano, 10 vezes mais que o Spotify (dados de 2023); a Apple não divulga números exatos, mas estima-se que girem em volta da metade do rival verde.

O Spotify possui cerca de 40 milhões de ouvintes individuais de podcasts apenas nos Estados Unidos, contra 29 milhões da Apple, e até então, a briga era restrita apenas às duas plataformas. Ninguém levava o YouTube a sério, já que ele é fundamentalmente inadequado para consumo de conteúdos apenas em áudio, a menos que o usuário assine o plano Premium, que permite a execução de mídia com a tela bloqueada no mobile.

No entanto, a divulgação dos números da plataforma de vídeos do Google apontou para uma verdade incômoda, que muita gente buscava ignorar: todo mundo tem acesso ao YouTube, nos mais diversos dispositivos, e uma vez que os programas estejam disponíveis, o usuário vai preferir usar o que já conhece e está acostumado.

Ao mesmo tempo, Katz revelou que esse consumo insano de podcasts não se reverte em assinaturas do Premium, ao invés disso, mais de 40% da audiência está concentrada em “dispositivos na sala de estar”, ou seja… TVs. E o consumidor não será atraído a um podcast de áudio com uma imagem estática, da mesma forma que não vê sentido em pagar mais um plano de assinatura por uma experiência, na sua percepção, “inferior”.

Como consequência, o podcast teve que evoluir. Para atrair mais público e anunciantes, e consequentemente fazer mais dinheiro, muitos passaram a focar na produção de programas em vídeo, o conceito de debates viabilizados pela internet e conversas remotas se transformou em um programa de Mesa Redonda com casting presencial, um formato jocosamente chamado de “mesacast” no início.

O podcast hoje é basicamente o Barraco MTV (Crédito: Reprodução/Paramount)

O podcast hoje é basicamente o Barraco MTV (Crédito: Reprodução/Paramount)

Essa migração para seguir o dinheiro teve suas consequências, a mais óbvia, produzir vídeo é muito mais complexo que áudio, e mesmo que os custos nem sempre sejam altos (Whindersson Nunes começou com uma câmera apoiada em uma lata, por exemplo), o formato é completamente diferente.

Claro que muita gente vai continuar preferindo se manter no áudio, e distribuir seus programas através do Spotify, Apple Podcasts, e RSS, compatível com apps dedicados diversos, mas com a revelação que o YouTube hoje deixa ambas concorrentes para trás em audiência, quem produz conteúdo com intuito de conseguir projeção e patrocínio, não pode ignorar a plataforma do Google, sob risco de perder oportunidades e minar seu crescimento.

Um programa apenas com som será rejeitado pelos espectadores, que querem vídeo; segundo o YouTube, a execução de podcasts em TVs em 2024 somou mais de 400 milhões de horas, e apenas programas já estabelecidos e com uma audiência sólida serão aceitos no formato tradicional, mas, por outro lado, não atrairão novos ouvintes. Mesmo o Kevin Smith teve que se adequar, ainda que o formato de videoconferência não seja tão atraente quanto uma conversa presencial.

Aderir ao YouTube tem seus próprios problemas, como jogar pelas regras do AdSense e adaptar suas campanhas de patrocínio (a plataforma não permite comerciais no meio do vídeo), e o formato de distribuição é completamente à parte do RSS, mas muitos criadores acreditam que não apenas o esforço é válido, como necessário para se destacar.

No fim, o criador deve pensar se vale a pena continuar como um podcaster, ou se converter em um youtuber e se adaptar à demanda do público e de anunciantes, que vão usar os números do YouTube como métrica de agora em diante.

Fonte: The Verge

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