Em mais um capítulo da novela para chegar a uma trégua na Guerra da Ucrânia, o presidente Volodimir Zelenski disse nessa quarta-feira (26) que aceita o acordo proposto por Donald Trump para a exploração de minerais estratégicos do país europeu na esperança de que ele faça parte de um arranjo sobre o fim do conflito. O americano anunciou que o ucraniano irá à Casa Branca para assinar o acordo nesta sexta-feira (28), deixando claro que os Estados Unidos não fornecerão salvaguardas contra futuras agressões russas, e sim os parceiros europeus.
“Eu não farei garantias de segurança. Nós teremos a Europa para fazê-las, porque a Europa é o vizinho ao lado [da Ucrânia]”, disse. Na versão atual do acordo, há uma referência vaga ao apoio americano “ao esforço da Ucrânia de obter as garantias” e somente. Trump reiterou que isso não inclui a entrada de Kiev na aliança militar que comanda: “Otan você pode esquecer”.
Falta, agora, combinar com os russos, que rejeitam quaisquer tropas da Otan no território vizinho. Trump tratará do tema com um dos pais da ideia, o premiê britânico Keir Starmer, que o visitará nesta quinta-feira (27). “Não haverá cessar-fogo sem garantias de segurança para a Ucrânia”, afirmou Zelenski.
Ele havia dito ainda que as tratativas eram iniciais e que as expectativas eram de que o arranjo fosse parte de um esforço maior para reconstruir a Ucrânia. Segundo o ucraniano, o sucesso da empreitada está nas mãos de Trump. Mais tarde, ele disse: “Para mim e para o resto do mundo, é importante que a ajuda americana não seja interrompida”.
Tudo isso sugere o inevitável: mais concessões de Kiev ante o alinhamento de Trump à visão russa do conflito. Comentando isso na quarta-feira, o premiê polonês, Donald Tusk, disse que qualquer acordo não “pode ser a capitulação da Ucrânia”.
O presidente americano tem jogado ambiguamente desde que mudou a política externa de seu país e retirou o apoio incondicional a Kiev. Ligou para Vladimir Putin, colocou equipes americanas para negociar diretamente com os russos e ainda pressionou Zelenski, chamando-o de ditador e de dispensável.
Ao mesmo tempo, pôs na mesa um acordo em que os EUA tomariam para si US$ 500 bilhões (R$ 2,8 trilhões) em reservas de minerais estratégicos dos ucranianos em troca do apoio já dado e, talvez, de algo no futuro. Zelenski rejeitou a oferta, dizendo que não poderia “vender seu país”.
Trump se manteve na ofensiva, e o ucraniano aquiesceu, com os americanos retirando o preço da fatura da negociação. Agora, há declarações vagas sobre exploração conjunta e a criação de um fundo mútuo para a reconstrução, algo que o Banco Mundial estima nos mesmos US$ 500 bilhões.
Zelenski tenta vender a ideia de que não cedeu, e que espera ainda as tais garantias de segurança. “O acordo é parte de um acerto maior com os EUA. Ele pode ser parte de futuras garantias de segurança, mas temos de entender a visão maior. Depende da nossa conversa com o presidente Trump”, afirmou.
Na conversa que teve com o colega francês Emmanuel Macron na segunda-feira (24), o republicano apoiou a ideia de que elas fossem dadas por uma força de paz europeia, algo que Paris, Londres e Berlim dizem topar. Quem não aceita é a Rússia, algo já reiterado pelo Kremlin e repetido ontem pelo chanceler Serguei Lavrov.
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