- Os graves erros cometidos pelo PT, no partido e no governo, chocam-se diretamente com as tradições do PT e da própria esquerda. O PT e o governo erraram e erram quando dão continuidade a políticas e a formas de ação que caracterizam a direita, e não a esquerda.
- Tenta-se desqualificar a esquerda com os erros do governo Lula e do PT, mas tais erros devem-se às políticas de direita.
- Privilegiando metas financeiras, e não sociais, o governo choca-se com os interesses da agricultura familiar e da segurança alimentar, promovendo uma política cara à direita, e não à esquerda. Um modelo econômico voltado para a exportação é uma opção de direita, ao passo que um modelo voltado para o mercado interno de consumo de massas, com distribuição de renda, caracterizar-se-ia como de esquerda.
- As políticas sociais focalizadas, emergenciais e compensatórias, e não de universalização dos direitos, são características da direita, em oposição à tradição dos governos municipais do PT.
- A esquerda critica as políticas e os métodos de ação de direita que o governo e a direção do PT adotaram. […] Os dirigentes do PT adotaram esses métodos, renegando o espírito público que norteou grande parte dos governos municipais do partido e as políticas sociais formuladas e postas em prática nessas administrações.
Tenta-se desqualificar o arcabouço histórico da esquerda, responsável pelos melhores momentos da história da humanidade, em nome de comportamentos que significaram o abandono desses valores e a adoção de métodos e políticas de direita. Pode parecer que a forma de condenar imoralidades seja a mesma em ambos os lados e que o clima atual consagraria a superação dessa dicotomia. É certo que a atuação de algumas pessoas, parlamentares ou não, que pretendem situar-se no campo da esquerda, não se diferencia das entrevistas e intervenções direitistas que ocupam a quase totalidade dos espaços da mídia. Mas, fazendo assim, infelizmente, não se diferenciam dos discursos da direita. - A direita apoia as políticas de direita do governo e choca-se com as políticas de esquerda. […] Que a esquerda saiba recuperar sua unidade, propor as suas alternativas para a crise, retomar a iniciativa e recolocar com força a oposição política que continua a comandar o mundo contemporâneo, entre dois lados opostos: esquerda e direita.
[*] Emir Sader, 62, é professor de sociologia da USP e da UERJ, onde coordena o Laboratório de Políticas Públicas. É autor de “A Vingança da História” (Boitempo).
Avante!
FERNANDO MAGALHÃES
ASS. TÉC. DA ALECE
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