Trânsito muito louco

Uma das questões que, seguramente, tem desafiado o poder público e a própria sociedade é o crescimento desenfreado de mortes e de acidentes em geral, ocorrentes no trânsito, seja nas vias urbanas ou rurais.
Os desafios vão desde a impossibilidade atual de contenção do número de veículos que circulam nas vias públicas; passando pela ausência de engenharia de trânsito eficiente e eficaz, e pela completa falta de educação ao dirigir, a qual, para piorar, não recebe engajamento dos órgãos de trânsito.
Em tema de desenfreio do número de veículos licenciados, por exemplo, nosso País lidera, absurdamente, esse indesejável ranking, segundo pesquisa divulgada recentemente pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Em 2024, as vendas de veículos aumentaram em 15%, quando comparadas com o ano de 2023, tendo sido emplacados 2,654 milhões de veículos leves e pesados em 2024.
Embora essa elevação nas vendas de veículos possa causar certa comemoração, por parte dos fabricantes, montadoras e comércio do ramo, estudos já revelaram que esse “parto” de veículos trará dores, “espinhos e abrolhos” como em “Gênesis”, contribuindo para o aumento da já tão dificultosa mobilização, cuja consequência pode ser fatal.
Em 2023, um estudo empreendido pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) revelou, por números colhidos em cada região do País, um indesejável aumento no número de acidentes, com resultados fatais.
Dentre as conclusões apresentadas, destaca-se a indissociável relação entre o crescimento do número de carros e motos nas ruas ao dos sinistros ocorridos, em grande parte tendo motociclistas envolvidos.
A pesquisa incursionou também por outros aspectos, como a faixa etária dos envolvidos e até o nível de escolaridade e das condições econômicas.
É inegável que a falta de educação em geral é um ponto a considerar, especialmente quando relacionada ao trânsito. Ninguém recebe lições desde a aurora da escolarização sobre o tema. O alvo de todo mundo é tão-somente o de adquirir seu primeiro ou próximo veículo, e pronto.
Não bastasse isso, os órgãos e entidades responsáveis, secundarizam o problema, para não dizer que praticamente relegam ao plano da desimportância, prosaicamente se falando.
Nesse preocupante caminhar, a tendência, obviamente, é que as ruas virem “cães sem dono”, já que as políticas de educação dão lugar à mecânica prática de se “multar”, com finalidade meramente arrecadatória, como pública e notoriamente se sabe.
Basta ver que o investimento (entre aspas), restringe-se à colocação de mais e mais instrumentos (os mais modernos e sorrateiros possíveis), cuja função é gerar infrações de trânsito.
Campanha que vise à educação no trânsito só aparece à moda político (ironicamente em época de campanha), quando em data que lembre o assunto. E é tão acanhadinha, que passa despercebida, como motocicleta em “ponto cego”, num zás-trás de duração.
Por essas e outras razões, dirigir tornou-se nas últimas décadas, um desafio maior do que muitos que já temos na vida, confirmando a profecia de Cristo de que no Mundo, teremos aflições.
Algumas pessoas até já optaram por meios alternativos de mobilidade, como pedalar ou andar a pé, o que não os livra dos perigos, já que integram, de toda forma, o conjunto dos que circulam nesse trânsito muito louco.
Voltaremos ao tema.

PAULINO FERNANDES
DEFENSOR PÚBLICO E PROFESSOR

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