O escândalo da criptomoeda $Libra, batizado de criptogate, que jogou um balde de água fria no bom momento econômico do governo ultraliberal de Javier Milei, levou ao primeiro pedido de impeachment, no Congresso Nacional, do presidente da Argentina. O pedido foi apresentado pelo deputado Esteban Paulon, do Partido Socialista (PS) pela Província de Santa Fé. Em conversa com a reportagem, ele disse que há um “grande dano reputacional” no país e que Milei, “inocente até que se prove o contrário”, precisa prestar contas.
“O plano e a popularidade do governo hoje estão sustentados na inflação. E a degradação da palavra presidencial tem um impacto”, afirmou o deputado. O processo de impeachment no país é conhecido como “juízo político”. O pedido assinado por Paulon e por duas deputadas requer que a comissão da Câmara responsável pelo tema analise o caso e decida se o levará ao plenário.
Hoje, as condições são desfavoráveis, e Paulon sabe disso. Uma maioria simples dos deputados (ao menos 129 de 257) teria de dar luz verde para que o tema chegasse a essa comissão. Isso feito, e se a comissão avaliasse que valeria votar o impeachment, o tema voltaria a plenário e teria de ser aprovado por ao menos 2/3 (171 deputados) e, na sequência, ser votado no Senado. É um caminho difícil.
Ainda assim, Paulon disse crer que o jogo pode virar, e que mais apoios devem se somar nas próximas semanas a depender do alargamento dos impactos econômicos do escândalo, que já desidratou as ações argentinas no começo desta semana. O deputado afirmou que Milei, que também é investigado na Justiça, tem tido uma atitude errática na resposta à crise.
O presidente argentino compartilhou em rede social uma divulgação da criptomoeda que dizia ser feita para ajudar pequenos e médios empreendedores e cuja capitalização, com o endosso, subiu, até, poucas horas depois, despencar. Os envolvidos são acusados de fraude.
O deputado avalia que “o governo cometeu muitos erros” e que “a desculpa de Milei de ‘apaguei o post porque não tinha informação suficiente’ foi um passo em falso. No dia seguinte, outro passo em falso, com a Presidência admitindo que o presidente conhecia as pessoas por trás da $Libra e que se reuniu com elas. Depois, propondo, em nome da ‘transparência’, uma comissão de autoinvestigação no Executivo. Isso dá opacidade ao processo, não transparência”.
Já o que o deputado classifica como “terceiro passo em falso” é a entrevista concedida na noite da segunda-feira (17). “Em vez de convocar diferentes jornalistas e fazer algo plural, foi uma entrevista pautada e editada. Há dois principais afetados neste episódio. Primeiro, as vítimas, as pessoas que perderam dinheiro. Segundo, a reputação e a palavra presidencial, a confiança do mundo e das pessoas no presidente. E isso afeta gravemente o país. Há um grande dano reputacional”, disse Esteban Paulon.
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