Entenda por que Trump usa táticas de intimidação até contra aliados


De acordo com o analista político para o mercado financeiro Terry Haines, há décadas as tarifas aceleram o processo de trazer outro país à mesa para renegociar. A guerra das tarifas: Trump mostra que vai usar táticas de intimidação até contra aliados
A queda de braço das tarifas mostrou que Donald Trump vai usar táticas de intimidação até contra aliados.
O melhor jeito de cultivar uma amizade é sendo malvado? Porque Donald Trump precisa de amigos para enfrentar o que considera o grande inimigo do estilo de vida americano. Nas últimas três décadas, a China virou a fábrica do mundo. Hoje, a produção industrial chinesa é do mesmo tamanho da dos Estados Unidos, Japão e Alemanha juntos. A competição levou ao fechamento de fábricas e fez com que cidades do interior americano virassem cidades-fantasma. Os americanos tiveram que se adaptar ao jeito como os chineses produzem para competir – trabalhando mais e ganhando menos.
Agora, a China está em outra fase: a do crescimento tecnológico que disputa com os Estados Unidos pau a pau, desenvolvendo inteligência artificial e o computador quântico. Em 2024, a China bateu um recorde: exportou US$ 1 trilhão a mais do que importou.
No primeiro mandato, Trump começou a impor tarifas para tentar frear o crescimento do gigante. Joe Biden não retirou as tarifas e ainda aumentou algumas. Mas o que justificaria Trump agora taxar também os amigos México e Canadá?
Tarifas dos EUA sobre México, Canadá e China entram em vigor
De acordo com o analista político para o mercado financeiro Terry Haines, a resposta é surpreendente: ameaçar para trazê-los mais para perto. Segundo ele, os Estados Unidos sempre usaram tarifas como arma de negociação.
Por exemplo: uma parte da carne que vem do Brasil é taxada em 26,5% para entrar nos Estados Unidos. Muito mais do que Trump anunciou para China, e também mais do que as tarifas para México e Canadá. De acordo com Haines, há décadas as tarifas aceleram o processo de trazer outro país à mesa para renegociar.
E isso aconteceu nesta segunda-feira (3) com o México. A presidente mexicana negociou benefícios para os dois países e as tarifas foram suspensas. A mesma coisa com o Canadá.
Foi assim na semana passada, quando Trump anunciou tarifas sobre a Colômbia, porque o presidente Gustavo Petro tinha se recusado a receber aviões militares com colombianos deportados. Trump reagiu. Logo depois, eles chegaram a um acordo: que a Colômbia receberia os imigrantes e as tarifas foram suspensas. Haines acredita que, dessa forma, os Estados Unidos usam seus aliados da forma mais vantajosa para o país.
Entenda por que Trump usa táticas de intimidação até contra aliados
Jornal Nacional/ Reprodução
Para o professor de políticas econômicas da Universidade de Georgetown Jerry Anderson, Trump está transformando relações históricas com países amigos em algo puramente transacional: se eu me benefício e você se beneficia de alguma forma, nós podemos fazer negócio. Mas se eu não conseguir uma vantagem imediatamente, aí não.
Agora, se essas tarifas entrarem em vigor isso quer dizer que os americanos vão entrar no mercado e vai ter que pagar 25% a mais por um abacate porque ele vem do México? Para muitos analistas, sim, porque o aumento de preço de um produto importado é repassado para o consumidor, e isso não ia deixar os americanos nada felizes. Mas, de acordo com Haines, as tarifas são só uma parte da política econômica de Trump. Porque, além disso, ele pretende baixar o preço da gasolina e os impostos sobre comerciantes, e isso manteria os preços baixos.
Mas muita coisa tem que dar certo para que o plano funcione. O professor Anderson diz que os Estados Unidos não são uma ilha, não são autossuficientes.
Muitos países já previam essa nova forma de Trump jogar o xadrez geopolítico e começaram a fazer outras alianças. O professor mencionou, por exemplo, o acordo do Mercosul com a União Europeia, firmado em dezembro de 2024, logo antes de Trump assumir.
Com o show das tarifas, Trump pretende deixar claro que não está para fazer amigos e, sim, aliados. Abusando do poder que ainda tem um gigante econômico, mas em um ato que pode parecer o desespero de uma potência em declínio. Alguém vai se atrever a enfrentar?
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