O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem colecionado polêmicas desde que voltou à Casa Branca, no dia 20 de janeiro deste ano. E elas têm uma razão. Em discursos recentes, incluindo os da cerimônia de posse e da participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), Trump se referiu à eleição dele como “uma revolução do senso comum”.
É algo de que ele costuma se gabar. Apresenta-se como uma espécie de defensor dos americanos de verdade contra as elites intelectuais, afirma a historiadora Sophia Rosenfeld. Ela leciona na Universidade da Pensilvânia e estuda justamente a história do senso comum. É autora do livro “Democracia e Verdade”, lançado no Brasil em 2023 pela Ateliê de Humanidades, e publica nas próximas semanas uma obra sobre a liberdade no mundo moderno.
O senso comum, segundo a historiadora, refere-se àquelas coisas que nós conhecemos sem ter de estudá-las. É nessa mistura de instinto e experiência que Trump baseia grande parte das ideias. Não importa, nesse contexto, a opinião de especialistas. “Trump tem soluções bastante fáceis para as coisas, e muitas das suas propostas podem ser reduzidas a preceitos simples. Todas as nuances que são necessárias desaparecem”, explica.
A fala sobre a revolução do senso comum foi direcionada a líderes mundiais e empresários reunidos na Suíça. “É uma estratégia. Permite que ele soe como se estivesse com o povo. Mesmo que eu não acredite que ele pense em si mesmo como um homem comum.”
Ainda segundo a historiadora, quando as pessoas dizem que estão do lado do senso comum, estão apenas tentando ganhar pontos, inclusive políticos. “Mas isso não significa que falam em nome do senso comum ou das pessoas de verdade. É um tipo de reivindicação retórica que é feita tanto pelos políticos de direita quanto pelos de esquerda.”
Sophia Rosenfeld diz que o populismo de direita está ressurgindo. “Os Estados Unidos são o exemplo mais recente, mas há políticos na Europa dizendo também que vão contra os outros políticos, contra as regulações e contra os demais obstáculos à vontade do povo. Essa abordagem contra especialistas e contra modos rebuscados de falar é um elemento comum da política de direita”, avalia.
“Donald Trump enquadra muitas de suas ideias no senso comum. Diz que os EUA têm muito petróleo debaixo da terra, então por que não o exploraríamos? Diz que o governo está repleto de desperdícios e que, em uma situação normal, as pessoas tentariam reduzir os seus gastos, mesmo que os economistas digam que precisamos aumentar o gasto público em tempos de recessão”, assegura a historiadora.
Sophia Rosenfeld diz que “Trump é autenticamente hostil à expertise. Ele não é um leitor ou um pensador, de modo nenhum. Mas é, em sua maior parte, uma estratégia. Permite que ele soe como se estivesse ‘com o povo’. Mesmo que eu não acredite que ele pense em si mesmo como um homem comum do povo.
Entre as polêmicas, o republicano, voltou a defender a anexação do Canadá aos EUA, em publicação nas redes sociais, segundo o UOL. “Nós pagamos centenas de bilhões de dólares para SUBSIDIAR o Canadá. Por quê? Não há motivo. Não precisamos de nada do que eles têm. Temos energia ilimitada, deveríamos fabricar nossos próprios carros e temos mais madeira serrada do que jamais poderemos usar. Sem esse subsídio maciço, o Canadá deixa de existir como um país viável. É duro, mas é verdade! Portanto, o Canadá deve se tornar nosso querido 51º Estado”, disse Trump.
Essa manifestação foi a primeira dele depois que, no sábado (1º), ele anunciou tarifas de 25% contra todos os bens canadenses e mexicanos. A única exceção é no campo de energia, com taxas de 10%. Horas depois, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou retaliação. Produtos americanos seriam taxados em 25%, principalmente de estados republicanos.
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