Indústria cresce acima da média global, mas alta de juros preocupa

A indústria brasileira de transformação registrou um crescimento expressivo de 4,6% no terceiro trimestre de 2024, comparado ao mesmo período do ano anterior, mais que o dobro da expansão global, que ficou em 2,3%, segundo dados da Unido (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial). Após uma queda de -1,0% no mesmo trimestre de 2023, o setor conseguiu reverter o cenário negativo e demonstrar sinais de recuperação, impulsionado por condições de crédito mais favoráveis e uma demanda doméstica aquecida.

O desempenho do Brasil contrasta com o das economias avançadas, como Europa e América do Norte, que enfrentaram queda na produção, e até mesmo com a China, que desacelerou de 1,5% para 1,1% na comparação trimestral. Contudo, a perspectiva de um novo ciclo de alta de juros no Brasil, com a Selic podendo atingir 14,25% ao ano em março de 2025, ameaça esse movimento de recuperação.

Juros altos
De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o crescimento em 2024 foi sustentado por uma combinação de juros baixos nos anos anteriores, melhora no mercado de trabalho e políticas governamentais de transferência de renda. No entanto, a elevação agressiva da Selic, promovida pelo Banco Central, pode prejudicar o dinamismo do setor em 2025.
“O impacto não deve reverter completamente a recuperação, mas certamente prejudicará o ritmo. Pela primeira vez em uma década, a indústria cresceu com vigor sem registrar retração no ano anterior. Essa trajetória é ameaçada pela política monetária mais apertada e por turbulências externas”, afirma Rafael Cagnin, economista do Iedi.

Cenário externo
O cenário global também traz desafios para a indústria brasileira. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump pressiona o Federal Reserve a reduzir os juros, enquanto o aumento de tarifas sobre produtos chineses pode redirecionar a concorrência para mercados prioritários do Brasil. Essa dinâmica pode intensificar a pressão dos produtos chineses tanto no mercado interno quanto em destinos internacionais importantes para a indústria nacional.
Além disso, questões climáticas e a saída dos EUA do Acordo de Paris, sob a administração Trump, podem reduzir oportunidades para o Brasil, especialmente em iniciativas relacionadas à transição energética.

Oportunidades
Apesar dos desafios, há fatores que podem amortecer os impactos negativos no curto prazo. Entre eles, destacam-se os incentivos fiscais, como o programa de depreciação superacelerada, que estimula investimentos, e o fortalecimento das operações do BNDES por meio das emissões de Letras de Crédito do Desenvolvimento (LCD). A desvalorização do real em relação ao dólar também favorece a competitividade dos produtos nacionais, embora os benefícios dependam de maior estabilidade cambial.

O Iedi destaca ainda o papel de iniciativas voltadas à inovação e sustentabilidade, como os programas do BNDES, que têm impulsionado a produção de bens de capital e de consumo duráveis. “Mesmo em um ambiente de incertezas, essas medidas podem ajudar a sustentar o desempenho industrial no início de 2025”, avalia Cagnin.

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