Gerson Fogaça: reconhecimento internacional da arte contemporânea brasileira

Em uma entrevista reveladora ao Jornal O Estado, o artista plástico Gerson Fogaça compartilha como sua infância no interior de Goiás, marcada por desafios e recursos limitados, moldou sua trajetória artística. Fogaça reflete sobre como o uso de materiais improvisados, como cascos de tartaruga e tinta automotiva, e a influência de figuras chave em sua carreira internacional contribuíram para a construção de uma identidade única no cenário da arte contemporânea. Além disso, o artista detalha como suas experiências pessoais, como o impacto das cores e memórias de sua cidade natal, dialogam com o contemporâneo, oferecendo uma visão profunda de suas obras e do significado das conexões culturais ao longo de sua carreira.

O ESTADO | Como sua infância em ambiente rural e com poucos recursos influenciou seu desenvolvimento artístico e sua abordagem da arte contemporânea?
GERSON FOGAÇA | Minha infância em Britânia, uma pequena cidade do interior de Goiás, foi marcada por desafios e medos. A separação dos meus pais trouxe a solidão, e o convívio com os caixões que meu avô, carpinteiro, fabricava, em azul e roxo, e ficavam pendurados na sala, o que alimentava o medo da morte. Nesse ambiente de recursos escassos, o desenho tornou-se minha forma de lidar com as frustrações e de transformar as limitações em criação. Trabalhar com materiais improvisados, como cascos de tartarugas e tintas automotivas, foi o ponto de partida para descobrir que a arte pode vir de qualquer circunstância. Essa vivência moldou minha percepção do mundo e consolidou minha identidade como artista.

O E. | Como ter curadores como Dayalis González, que vive em Miami, e Patrícia Navarro, em Paris, além do apoio de Silvia Medina, na Espanha, que coordenou a Bienal de Havana, e de Morella Jurado, da Venezuela, que foi curadora do pavilhão venezuelano em uma das Bienais de Veneza, impactou sua trajetória artística e sua carreira?

G. F. | Trabalhar com profissionais como Dayalis González, Patrícia Navarro, Silvia Medina e Morella Jurado foi essencial para ampliar a visibilidade e o alcance do meu trabalho. Cada uma trouxe perspectivas únicas, conectando minha arte a contextos internacionais importantes. Essas parcerias fortaleceram minha presença global e enriqueceram minha prática artística com novas interpretações e possibilidades criativas.

O E. | O que você acredita que diferencia Gerson Fogaça de outros artistas do cenário contemporâneo em termos de seu estilo, técnica e mensagem em suas obras?
G. F. | O que diferencia um artista é a forma como ele carrega suas vivências e energia para construir suas obras. No meu caso, não vejo minha arte como algo que me separa de outros artistas, mas como parte de um coletivo de expressões diferentes. Cada um traz sua história e visão ao contemporâneo, e eu faço o mesmo ao usar elementos que dialogam com minha trajetória e experiências pessoais. Acredito que minha contribuição é mais uma voz nesse grande mosaico de possibilidades que a arte contemporânea oferece.

O E. | Quais aspectos culturais e históricos de sua cidade natal, Britânia, aparecem mais fortemente em suas obra?
G. F. | Na realidade, eu nasci na Cidade de Goiás, mas cresci em Britânia e tenho uma forte ligação com essa cidade. Ela não aparece diretamente no meu trabalho, que foca na metrópole e no “não lugar”. Mas, há cerca de 10 anos, numa fase mais sombria, memórias dela surgiram. As cores azul e magenta, por exemplo, me lembraram do meu avô, que fazia caixões e os deixava pendurados na sala, como já citei. Minha avó cobria os caixões com tecidos dessas cores e usava os retalhos para costurar minhas roupas. Essas lembranças, mesmo não planejadas, percebi depois que de alguma forma, elas apareceram na minha obra.

O E. | Como o Prêmio Funarte de Artes Visuais, recebido em 2010, influenciou o reconhecimento de Gerson Fogaça no Brasil e fora dele, e qual a importância de premiações como essa?
G. F. | Não vejo premiações como um fim, mas como um incentivo para continuar evoluindo e expandindo o trabalho. O prêmio foi importante, mas sei que construir uma carreira sólida na arte é um processo contínuo, cheio de novas explorações e desafios.
O E. | A participação em exposições internacionais, como na França, Cuba e Chile, oferece uma reflexão sobre como a arte brasileira é percebida e valorizada em diferentes culturas. Como você percebe esse intercâmbio cultural?

G. F. | A arte brasileira, com sua riqueza e diversidade, desperta tanto admiração quanto curiosidade em diferentes contextos culturais. Cada país oferece uma leitura única, trazendo novas camadas de interpretação às obras. O intercâmbio cultural não é apenas uma oportunidade de mostrar meu trabalho, mas também é um espaço para aprendizado, reflexão e expansão dos limites criativos.

O E. | O que você busca transmitir por meio de suas exposições coletivas e individuais, como “Borderline” e “Visões Simbólicas”, e como essas mostras refletem sua evolução enquanto artista?
G. F. | Borderline” e “Visões Simbólicas” representam fases diferentes do meu caminho como artista. Uma explora tensões e limites, enquanto a outra se aprofunda em questões mais subjetivas. Para mim, a arte não oferece respostas prontas, mas abre espaço para reflexão.

Por Felipe Palhano

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